sábado, 28 de janeiro de 2012

Dos Apóstolos a Wesley - Porções Seletas (Parte IV)

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A debilidade fatal no ensinamento agostiniano da perfeição é sua tendência em identificar o pecado original com a luxúria sexual. Ele disse: “Há várias e diversas classes de luxúria: algumas têm seu próprio nome, outras, não... Todavia quando não se especifica um objeto, a palavra geralmente sugere à mente a excitação luxuriosa dos órgãos sexuais” [De civ. Dei(A Cidade de Deus), XIV:15, 16].
Segunda a teoria agostiniana, Adão e Eva receberam o mandato divino de povoar a terra e em seu estado original; antes da queda, não conheciam a excitação do desejo sexual. Se houvessem mantido este estado de inocência, “o homem haveria depositado a semente, a mulher recebido, tal como necessário. Neste caso, os órgãos sexuais seriam ativados pela vontade e não excitados pela luxúria” [De civ. Dei(A Cidade de Deus), XIV:24]. Pág. 66.
Porém o orgulho (“o apetite de uma exaltação exagerada”) foi “o princípio do pecado” e a luxúria foi uma consequência penal. [...] Agostinho interpreta a guerra entre os membros, tão vividamente descrita em Romanos 7, como “a luta entre a vontade e a luxúria” [De civ. Dei(A Cidade de Deus), XIV:23]. Pág. 66-67.
Esta tendência de definir o pecado original como luxúria sexual emana do conceito pagão que a criação material é má, per se. Reflete a filosofia dualista que fez parte dos antecedentes pré-cristãos de Agostinho. O conceito de que o mundo material é essencialmente mau prevalecia na antiguidade e a identificação do pecado como sexo era parte desta maneira de pensar. Esta idéia contribuiu para o ideal da virgindade e do celibato bem como para as verdadeiras expressões da santidade. Entretanto também obscureceu desnecessariamente a doutrina do pecado original. Tem sido quase impossível à Igreja desfazer-se da idéia de que a carnalidade e a luxúria sexual são praticamente sinônimas.
Tal identificação do corpo humano com a natureza pecaminosa não se encontra em parte alguma do Novo Testamento. Sem dúvida que nosso corpo não redimido é escravo e ferramenta do pecado. Mas precisamente, o propósito da morte de Cristo na cruz foi livrar nossos corpos do domínio do pecado (Rm 6:6), a fim de que nos consagremos a Deus e “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências; Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça” (Romanos 6:12-13). Posto que somos os que temos saboreado as misericórdias de Deus, agora apresentamos nossos “corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (Rm 12:1). Em outro lugar Paulo escreve: “Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo” (I Co 6:18). Na continuação o apóstolo recorda os coríntios: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (I Co 6:19-20). Inteiramente santificados, “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso SENHOR Jesus Cristo”. (I Ts 5:23). Pág. 67.

Desde que o corpo, com seus apetites e impulsos, é uma fonte de tentação Paulo escreve: “Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (I Co 9:27). O natural deve ser sacrificado ao espiritual, se é que haveremos de ganhar a coroa da vida. Por essa razão escreve aos romanos: “Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis” (Rm 8:13).

Portanto, a conclusão a que chegamos é que os desejos do corpo, incluindo o impulso sexual, não são pecaminosos em si mesmos. O desejo é a essência da tentação, mas tentação não é pecado (Tg 1:15-16). Pág. 68.

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